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A complexidade do vício e o desafio
03 de julho de 2015 16:59
A complexidade do vício e o desafio

Quem já não sentiu uma vontade insana por algo simples como um chocolate, ou um delicioso doce que vemos no balcão de uma padaria? O desejo incontrolável, o suor frio e a ideia fixa correspondem a sintomas de um problema que acomete grande parte da população, conhecido por vício. Em resumo, o vulgo viciado pode ser descrito como o cidadão que apresenta o hábito repetitivo de praticar determinados atos, assim como aqueles que apresentam dependência em relação ao consumo de uma certa substância. Embora o termo viciado seja, de uma maneira geral, pejorativo e comumente associado a drogas pesadas e ilícitas, existem viciados que apresentam um impulso incontrolável de consumir café, cigarros, álcool, chocolates ou açúcar. Além disso, existem também pessoas viciadas em outros estí- mulos, como videogames, sexo, trabalho, jogo ou pornografia. Entretanto, independentemente do estímulo, sabe-se que o vício pode claramente devastar a vida das pessoas e de seus familiares, trazendo transtornos irreparáveis. Na busca incessante de auxílio, inúmeros pesquisadores vêm buscando melhor compreender a multiplicidade de causas que levam ao vício e, desta forma, desenvolver tratamentos inovadores e eficientes. O que estes cientistas têm encontrado para a resolução deste problema está aquém da simplicidade, uma vez que não existe uma personalidade tipicamente viciada. Entre os fatores combinados que podem levar uma pessoa a uma maior tendência ao vício, incluem-se a predisposição genética, traços de personalidade e experiências prévias que moldaram o desenvolvimento do indivíduo. Sabe-se ainda que o vício pode alterar o cé- rebro, moldando os circuitos neurais relacionados à sensa- ção de prazer e recompensa. Desta forma, aparentemente existem padrões de modifica- ções de comportamento e de circuitos neurais encontrados em viciados. O vício pode ser dividido em três estágios, começando com a sensação de bem-estar induzida, sendo esta governada pelo núcleo accumbens, ou Nac. Esta região cerebral está intimamente as sociada à via de recompensa, gerando impulsividade e prazer. Quando o estímulo é removido, segue-se o segundo passo, o qual ocasiona um efeito depressor na amígdala cerebral, caracterizada por comandar o componente emocional. Por fim, a compulsão e o desejo comandados pelos circuitos encontrados no córtex pré-frontal forçam o indivíduo a continuar usando a droga, iniciando novamente o ciclo. Desta forma, o cérebro cria um círculo interminável, que leva o usuário a utilizar drogas ou estímulos a fim de se sentir normal. Uma vez que tais modificações no cérebro são de longa duração, a saída completa do vício pode ser extremamente difícil, levando os pacientes a inúmeras recaídas. Mesmo após anos de recuperação, o cé- rebro ainda mantém estes circuitos em posição, e um pequeno estímulo, como o cheiro do álcool, pode fazer o indivíduo retornar a antigos hábitos. Por outro lado, novos e sofisticados tratamentos têm sido experimentalmente propostos para o vício. Uma vez que, nas últimas décadas, muitos cientistas têm mapeado circuitos neurais alterados pelo vício, vários deles acreditam que podem auxiliar na saída de pessoas desta condição, apenas consertando os circuitos neuronais e, consequentemente, curando as vias neurais. Outra estratégia consiste em bloquear alguns neurônios da Nac, a fim de reduzir a sensação de prazer. Estudos utilizando d-serina como bloqueadores neuronais se mostraram extremamente promissores para o controle do vício do álcool, uma vez que animais tratados com este composto reduziram a vontade de beber. Além disso, medidas simples e controversas, como a premiação de ex-viciados que não apresentam recaí- das, também têm alcançado certo sucesso. Assim, o vício ainda não tem cura certa, exigindo um enorme esforço do paciente, bem como de todo amparo familiar e social necessário para dar força ao indivíduo, para que lute contra seu pró- prio cérebro. A ciência está vigilante ao nosso lado, atuando sabiamente para solucionar os problemas de nossa sociedade.

 

Octávio Luiz franco

Coordenador do S-Inova Biotech e professor de Pós-Graduação em Biotecnologia da UCDB


Correio do Estado






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