Sob alegação de “causar incômodo” na cúpula do PDT de Mato Grosso do Sul, o deputado estadual Beto Pereira foi destituído da liderança da bancada na Assembleia Legislativa e já está de malas prontas para deixar o partido. A crise interna teve início com a eleição do deputado federal Dagoberto Nogueira para presidir a legenda, no fim de junho. Um mês depois, culmina em acusações de traição, retaliação a Beto e esvaziamento da bancada pedetista na Assembleia Legislativa. O parlamentar afirma que a decisão de sair do PDT já foi tomada e que, inclusive, já flerta com outros partidos. “Alguns já me chamaram”, conta. Nos bastidores, corre a informação de que as conversas estão bem adiantadas sobre retorno ao PSDB, do governador Reinaldo Azambuja. As idas de Beto à Governadoria para negociar a filiação têm sido constantes, assim como os encontros com o chefe da Casa Civil, Sérgio de Paula, encarregado da interlocução do governo com o Legislativo. Beto, hoje, é vice-líder do governador na Assembleia e era tucano quando foi prefeito de Terenos. “Não decidi nada [qual partido] ainda. Estou conversando”, completa o deputado. Desta forma, a bancada do PDT na Assembleia pode encolher e passar dos atuais três integrantes – Beto, George Takimoto e Felipe Orro – para apenas dois. Beto ainda depende de aprovação de janela partidária que possibilita saída sem correr o risco de o partido pedir seu mandato. A janela está em votação no pacote da Reforma Política no Congresso. Se não passar, diz Beto, não é descartado recorrer à Justiça Eleitoral para ingressar em outra sigla com a garantia de vaga no parlamento. O desentendimento começou na época da convenção estadual do PDT para eleger o novo diretório, quando não houve consenso entre as lideranças e a escolha chegou a ser adiada. Mas Dagoberto foi eleito, em chapa única, e o grupo ligado a Beto acusou o deputado federal de levar a presidência “no tapetão”. As discordâncias fizeram Beto criticar publicamente o partido. Por causa disso, foi destituído do posto de líder da bancada do PDT na Assembleia. Isso foi decidido durante reunião da Executiva Regional no fim da tarde de segunda-feira (27). “Foi levantada mudança do líder e deliberamos por colocar o Felipe Orro no lugar”, afirma Dagoberto. “Precisamos de um líder que defenda o partido na tribuna”, justifica. Após a convenção, Beto lavou a “roupa suja” em pronunciamento na tribuna da Assembleia. Ele diz não ter sido convidado para a reunião e que não foi comunicado da decisão. “Acredito que [a troca] seja por causa do desconforto que eu causei [na época da convenção]. Essa questão da liderança eu minimizo, o que me incomoda, de fato, é essa conduta autoritária que a gente sabia que passaria a ter [com a eleição do Dagober to] e agora está demonstrada”, comenta. Dagoberto, por outro lado, diz que a substituição do líder será feita porque Beto sairá do PDT. “O partido entende que o Beto vai sair. Não podemos ficar empurrando [a escolha de novo líder] com a barriga”. No dia da eleição, com a presença do presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, o grupo liderado por Beto questionou a retirada de alguns nomes da composição da chapa encabeçada por Dagoberto. Com a retirada dos nomes, Beto apresentou nova chapa, que seria comandada por João Leite Schimidt, ex-presidente do partido, e na vice-presidência Felipe Orro. O presidente nacional tinha concedido prazo de cinco dias para que as lideranças entrassem em um consenso e formassem uma chapa única. EXPULSÃO Além da definição sobre Beto Pereira, foi deliberada na reunião a expulsão, por infidelidade, do vereador Rodrigo Queiroz Neto, o Rodrigo Chapéu, de Aparecida do Taboado, por apoiar a candidatura de Nelsinho Trad (PMDB) ao governo do Estado. “Não apoiou ninguém do partido e seguiu claramente os interesses do PMDB”, explica o deputado. O PDT compôs alian- ça com o senador Delcídio do Amaral (PT) no ano passado. A expulsão será remetida à Executiva Nacional do partido e cabe recurso.